O algodão representa 65% dos insumos têxteis, o que caracteriza esta matéria-prima como estratégica para a indústria nacional. No entanto, o uso intenso de água e de pesticidas transformaram o algodão comum em um dos commodities mais poluentes do mundo. O “Desafio do Algodão Sustentável de 2025”, orientado pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, garantiu um acordo com 39 empresas transnacionais que se comprometeram a desenvolver produtos com algodão 100% sustentável. No Brasil, menos de 1% da produção de algodão é de origem orgânica. Incluído na porcentagem, o algodão colorido vem ganhando protagonismo.
Desde 2006 a Santa Luzia Redes e Decoração tem cultivado algodão colorido natural e orgânico em 20 hectares para abastecer sua própria produção de redes e mantas. Com a demanda crescente, a empresa ampliou a produção agrária em 300% para também atender tecelagens e outros parceiros na região Sul e Sudeste do país.
Até o momento, já são 60 hectares produzindo 1.200 quilos de algodão por hectare em municípios no entorno da fábrica têxtil localizada em São Bento, na Paraíba. O projeto prevê o plantio de 100 hectares de algodão em 2021. “Estamos promovendo a retomada da cultura algodoeira do Estado, que já foi líder do país’’, explica Armando Dantas, executivo da empresa têxtil.
O interesse pelos produtos têxteis vai sendo absorvido por outros setores ligados ao bem-estar como é o caso da Positiv.a que oferece produtos ecológicos para a limpeza da casa. Marcela Zambardino, cofundadora e coCEO da empresa, explica a escolha dos tecidos da Santa Luzia: “O algodão comum é uma das commodities mais poluentes do mundo. E o algodão orgânico, ao compor peças assinadas por estilistas, torna-se um produto caro. Um pano de limpeza pode ser o único algodão orgânico dentro da casa. E nossos clientes compram também porque querem apoiar um produto nacional, que respeita e valoriza a terra e as pessoas”.
A expansão do algodão na Paraíba está fortalecendo as comunidades agrícolas
O CEO da Santa Luzia faz parte de uma geração de líderes que se antecipa a uma nova realidade da indústria dando prioridade para a sustentabilidade e transparência. A iniciativa empreendedora tem o apoio de várias instituições – públicas e privadas.
Um destes apoios vem da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária – Empaer, cujos técnicos trazem conhecimento para a atividade ensinando o agricultor a cuidar da terra no semiárido, com peculiaridades pelo baixo índice de chuvas. Para Nivaldo Moreno Magalhães, presidente da Empaer, a ação de manter um arranjo produtivo local que se destaca por estar em área remota e de vulnerabilidade social é louvável. “Isso traz um benefício significativo para estas famílias que antes plantavam apenas para subsistência e, hoje, já nutrem novas perspectivas”, declara.
De acordo com Luiz Sávio, gerente do Instituto de Tecnologia Têxtil e Confecção do Senai Paraíba, a entidade apoia a iniciativa da expansão, principalmente no beneficiamento da pluma. Savio observa o impacto da produção local. Enquanto o estado da Paraíba em 2019 produziu 20 toneladas de algodão orgânico colorido em pluma incluindo a produção da Santa Luzia, somente esta empresa deve produzir mais de 25 toneladas ainda este ano.
Para o especialista em agribusiness Gilvan Ramos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Algodão a Santa Luzia representa hoje, no estado da Paraíba e no Brasil, um empreendimento industrial-comercial de aproveitamento racional da tecnologia algodão naturalmente colorido. “Ao lado de outros empreendimentos microempresariais, a iniciativa é a mais completa porque sua programação de trabalho e projetos elaborados até o presente momento apresentam início, meio e fim”, diz.
Para o CEO da Santa Luzia Redes e Decoração, a criação do Desafio do Algodão Sustentável 2025 deve ajudar as grandes empresas a manterem o foco no desenvolvimento amigável para o meio ambiente. Em breve, mesmo as pequeñas empresas têxteis devem colocar o algodão sustentável no centro de seus negócios e a Santa Luzia será a alternativa por estar com a cadeia produtiva em plena capacidade de atendê-las. “Nossa proposta é oferecer um algodão de alto valor agregado por se tratar de matéria-prima alinhada aos princípios de sustentabilidade ambiental, econômica e social”.